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O Portal SAPO publicou ontem um texto de opinião da autoria de José Cabrita Saraiva que tem o seguinte título: Juntar carros e bicicletas não vai dar bom resultado
Como sou parte interessada (ando de Bicicleta todos os dias), eis que li o artigo e no final fiquei com a nítida convicção de que o autor do artigo de opinião desconhece muita da realidade do ciclismo na cidade. Não que o José não tenha razão em muitas das coisas que escreve, mas em muitos momentos este apoia a sua tese apocalíptica em teorias profundamente irrealistas que revelam um desconhecimento perigoso.
A certa altura o José diz o seguinte:
Faz sentido a aposta que está a ser feita nas ciclovias e o encorajamento do uso da bicicleta como meio de transporte em Lisboa. As bicicletas não poluem, podem ajudar a reduzir o trânsito e até fazem bem à saúde de quem anda nelas.
Inteiramente de acordo José. E não são as colinas (para todos os gostos e feitios aqui pelo Porto) que me impedem de fazer o meu trajecto diário casa/escritório - escritório/casa.
Mais à frente o José diz outra verdade com a qual concordo inteiramente.
Quer para os próprios ciclistas, que já assisti a comportarem-se como verdadeiros kamikazes, quer para os automóveis, que têm de se desviar dos pequenos veículos e assim aumentam o risco de acidentes. A verdade é que muitos ciclistas querem andar na estrada, mas acham que as regras do trânsito não são para eles. já assisti a comportarem-se como verdadeiros kamikazes, quer para os automóveis, que têm de se desviar dos pequenos veículos e assim aumentam o risco de acidentes. A verdade é que muitos ciclistas querem andar na estrada, mas acham que as regras do trânsito não são para eles.
Lamentavelmente muita da malta que circula de bicicleta tem mesmo a peregrina ideia de que o Código da Estrada não se lhes aplica.
Mas a partir daqui o José começa a disparatar...
Além disso, uma bicicleta vê-se mal e anda devagar. Muito devagar. O que para ela já é uma velocidade assinalável, 20 ou 25 km/h, para um automóvel é estar praticamente parado. Basta pensar no seguinte: se um carro de uma escola de condução já provoca o transtorno que provoca – e vai a 40 ou 50 km/h –, agora imaginem uma bicicleta a metade dessa velocidade…
José… Meu caro José… Primeiro que tudo nem todas as bicicletas estão preparadas para andar na estrada. Quem anda na estrada de bicicleta deve ter a preocupação de fazer um investimento considerável para adquirir uma bicicleta que lhe permita circular com segurança. Eu (e outros como eu) fiz este investimento. E como cumpro as regras de trânsito, procuro andar sempre devidamente sinalizado e equipado. Tal como muitos outros(as) ciclistas. Se não nos vês é porque precisas de ir ao oftalmologista com urgência José.
Mas é claro que é verdade que nós ciclistas andamos mais devagar do que os automóveis, mas que eu saiba é muito mais complicado ultrapassar um carro de uma escola de condução do que uma bicicleta. Pelo menos cá pelo Porto é assim. E a ruas da minha Invicta são bem mais pequenas do que as que tens aí em Lisboa.
Na parte final do artigo o José diz-nos o seguinte:
Bicicletas e automóveis são como água e azeite. Não existe uma forma harmoniosa de os misturar. Por isso, ao mesmo tempo que se fazem ciclovias e se criam melhores condições para os ciclistas andarem na cidade, devia desencorajar--se de forma muito séria o uso de bicicletas na estrada. Ou muito me engano – e espero sinceramente que sim – ou suspeito que, de outra forma, o número de acidentes vai disparar.
Ó José… Já não te bastou a “argolada” que meteste anteriormente e tinhas de concluir desta forma?
É que não vais acreditar, mas existe uma forma harmoniosa de misturar bicicletas e carros. Chama-se Código da Estrada! Uma coisa que desconheces por completo com toda a certeza. Pois se conhecesses saberias que não se pode andar de bicicleta a não ser na estrada sempre que não exista uma ciclovia. E sabes porquê? Porque o Código da Estrada diz que só quem tiver menos de 10 anos é que pode circular de bicicleta no passeio.
Pois é José... Isto das bicicletas e dos carros não poderem circular juntos não é bem como dizes. Para a próxima informa-te antes de escrever.
Existe por entre os cidadãos uma espécie de mito urbano que faz furor (especialmente entre os mais velhos) que diz o seguinte:
Sempre – mas sempre - que um peão se aproxima de uma passadeira, eis que de imediato surge uma parede invisível que impede que qualquer veiculo impeça os peões de levar a cabo a dita travessia.
Como tal é comum atravessar-se sem sequer ter a veleidade de se olhar para ambos os lados pois pode suceder, por força do acaso, que o incompetente que venha a circular na estrada não consiga travar a tempo. Mas o peão, rei e senhor da passadeira e perfeitamente consciente da existência da tal parede invisível, atravessa de qualquer maneira jeito e feitio, cabendo ao condutor/motociclista/ciclista a obrigação de ter de travar a fundo mesmo que tal coloque em perigo a sua integridade física. E para completar o ramalhete eis que o peão, no alto da sua sabedoria popular, manda umas “bocas” a quem teve de travar de repente por causa da travessia de sua Exc.ª.
Ora tal cenário que descrevo no parágrafo anterior aconteceu-me ontem à noite. Vinha eu de bicicleta na Avenida da França quando opto por virar para a Rua da Graciosa (para que conste a minha bicicleta tem luz atrás e à frente e eu estava com um colete reflector). Sei perfeitamente que na entrada da Rua da Graciosa existe uma passadeira. Abrando a velocidade, sinalizo a minha presença com três ou quatro toques de campainha, deixo passar uma Sra. que se encontrava a iniciar a travessia na passadeira e quando me preparo para iniciar uma pedalada mais forte eis que um casal de idosos se atravessa na minha frente (já eu estava a meio da dita passadeira). Travo a fundo, deixo passar o casal e a mulher, não satisfeita com o susto que me pregou, sai-me com esta linda frase:
- Os ciclistas também têm de saber esperar!
Ao que respondi alto e bom som:
- E os peões não podem atravessar de qualquer maneira! Mesmo numa passadeira!
E bem vistas as coisas a Lei está do meu lado. Senão vejamos o que diz o Código da Estrada sobre este assunto:
Decreto-Lei nº 265-A/2001 de 28-09-2001
CÓDIGO DA ESTRADA
TÍTULO III
Do trânsito de peões
Artigo 101.º
Atravessamento da faixa de rodagem
1 — Os peões não podem atravessar a faixa de rodagem sem previamente se certificarem de que, tendo em conta a distância que os separa dos veículos que nela transitam e a respetiva velocidade, o podem fazer sem perigo de acidente.
2 — O atravessamento da faixa de rodagem deve fazer-se o mais rapidamente possível.
3 — Os peões só podem atravessar a faixa de rodagem nas passagens especialmente sinalizadas para esse efeito ou, quando nenhuma exista a uma distância inferior a 50m, perpendicularmente ao eixo da via.
4 — Os peões não devem parar na faixa de rodagem ou utilizar os passeios de modo a prejudicar ou perturbar o trânsito.
5 — Quem infringir o disposto nos números anteriores é sancionado com coima de 6€ a 30.”
Atente-se o que está escrito no n.º1 do aqui destacado artigo (o que está sublinhado e a negrito) ao qual acrescento o seguinte (que retirei daqui):
Almeida e Silva, jurista do Automóvel Clube de Portugal, explicou ao Jornal de Notícias que “se o condutor deve moderar a velocidade sempre que se aproxima de uma passadeira, prevendo a possibilidade de um transeunte querer passar, quem circula a pé tem o dever de não avançar se a distância a que se encontra dos carros inviabilizar uma travagem segura”.
O especialista do ACP acrescenta ainda que “quantificar esta distância de prudência não é fácil, já que os 100 a 150 metros que geralmente se convenciona como sendo suficientes para uma travagem livre perigos, podem não o ser”.
“Quando há um atropelamento numa passadeira, culpa-se sempre o condutor, mas por vezes a responsabilidade é do peão. Mesmo que se circule a 50km por hora, nem sempre é possível imobilizar o veículo em meia dúzia de metros. À noite ou em condições de luminosidade reduzida, os cuidados devem ser redobrados”, continua Almeida e Silva.
Resumindo e concluindo: o peão nem sempre é o elo mais fraco. É antes, por norma, o elo mais irresponsável com o qual quem circula nas ruas de uma cidade tem de lidar e – sobretudo - aturar.
Hoje vou falar-vos de um importante aspecto que qualquer Ciclista Urbano deve ter em conta para que a sua viagem pela cidade seja o mais segura possível.
A escolha de um trajecto é de uma importância atroz. Se calhar pouca gente pensa assim, mas se nos lembramos que a bicicleta se move com a força das nossas pernas rapidamente percebemos porquê razão o trajecto é algo que tem de ser pensado antes de se iniciar um qualquer passeio de “Bicla” pela Cidade. Por muito que não queiramos a Bicicleta não é um carro. Não podemos passar por todo e qualquer sítio de Bicicleta. Existirão locais onde pedalar é um desafio que nem Rui Costa, Campeão do Mundo de Ciclismo, consegue andar.
Então que fazer antes de pedalar?
Muito simples: elaborar um trajecto. E um que não tenha passagens impossíveis. Se podermos evitar zonas muito congestionadas, subidas ingremes, ruas de uma faixa só e rotundas é excelente. Isto porque vamos conseguir ir da casa de partida ao nosso destino em segurança e com o menor constrangimento possível.
O Ciclista Urbano inteligente é aquele que estuda todas as possibilidades antes de se fazer à estrada. Por exemplo; é uma atitude sensata aproveitar uma rua que tenha uma descida seguida de uma subida, pois o balanço da descida irá ajudar a que se faça a subida com menos esforço e desta forma perturba-se o menos possível o trafego.
Nesta coisa de andar de Bicicleta na Cidade a sensatez é algo que deve estar sempre presente. Se porventura não houver nenhum trajecto alternativo sem ser aquele que nos leve a uma rua com uma grande intensidade de trânsito ou a uma subida muito inclinada (por exemplo), o melhor que temos a fazer é sair da Bicicleta, subir ao passeio e fazer o que nos falta do percurso a pé com a nossa miga de duas rodas ao lado. Afinal de conta não vale a pena fazer do passeio de Bicicleta uma Competição.
Ser-se ciclista em Portugal não é fácil. Não bastasse a falta de infra estruturas (entenda-se ciclovias), temos também de lidar com a pujança e má criação de quem circula nos passeios e ruas das nossas cidades.
No caso dos passeios sou como o outro. Quem circula num passeio não espera de forma alguma vir a ter de ceder passagem a bicicletas. Contudo nada impede um ciclista de circular no passeio se não houver uma ciclovia ou BUS. Naturalmente que quem vai a pedalar num passeio deve ser paciente, educado e cauteloso.
Já nas ruas a música é outra. É que é por aí que as bicicletas devem circular preferencialmente. E claro que o devem fazer de forma a não perturbar o trânsito, circulando sempre o mais encostado possível ao passeio (e quando digo o mais encostado possível não estou a dizer que devem circular na berma, facto que, por si só, é impossível) e sinalizar sempre com o braço estendido a intenção de virar à esquerda/direita. À noite os cuidados na rua de um ciclista devem ser redobrados uma vez que, para além do capacete que se deve utilizar sempre, exige-se que se circule com um colete reflector e uma luz dianteira/traseira.
Na passada Sexta-feira à noite sai do escritório. Esperei que todos os carros tivessem passado, comecei a circular e virei para uma rua com dois sentidos. Neste momento eis que um condutor começa a buzinar e a barafustar alto e bom som enquanto me ultrapassava. Como se fosse o Rei da estrada que quer o trajecto só para ele. Eu estava de capacete posto, colete reflector equipado, luz dianteira e traseira ligada e seguia o mais encostado possível ao passeio. Que queria sua Eminência parda que eu fizesse mais? Que me atirasse para cima do passeio para que o Excelentíssimo passasse sem ter de fazer uma ultrapassagem?
Mais á frente, depois de ter estado num semáforo à espera do verde, eis que outra inteligência começa aos berros. Não me perguntem o que queria a personagem até porque eu estava mais atento ao que se ia passando à minha frente, mas sei que o “recado” era para mim.
Sinceramente que quer esta gente? Se vamos de bicicleta no passeio ralham. Se vamos na rua protestam e buzinam.
Ciclista urbano sofre!