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Com toda a certeza já todos ouviram falar no Passeio da Fama. Um local onde as estrelas de Hollywood deixam a sua marca intemporal. É uma forma que os Estados Unidos da América têm de homenagear «ab eternum» a sua produção cultural e, ao mesmo tempo, lucrar com isto dado que há uma vertente comercial muito grande que gravita em torno do dito passeio.
Já o Panteão Nacional é algo de muito diferente. Trata-se de um local para o qual não basta o destaque na produção cultural (ou noutro ramo qualquer) do nosso país. È um local onde se homenageiam e se recordam as memórias de personalidades que, de uma forma ou de outra, construíram aquilo que apelidamos de Portugal.
A homenagem «ab eternum» (um pouco ao estilo do já aqui referido Passeio da Fama) pode – e deve – ser feita de outra forma. A atribuição do nome do atleta, artista, político, etc. a um aeroporto, biblioteca, teatro e pro aí adiante é, sem sombra de qualquer dúvida, a melhor forma de se eternizar o legado e memória de quem se pretende homenagear e recordar para todo o sempre.
Ora tudo isto a propósito da recente ideia de se colocar Zeca Afonso no Panteão Nacional. Uma ideia estapafúrdia que tem como único fundamento – nada racional, diga-se desde já – de agradar a uma certa facção política. Assim numa de se querer “comprar” a simpatia da Esquerda colocando no Panteão Nacional os restos mortais de um cantor que marcou um período da nossa História mas cuja contribuição, por muito genial e honrosa que tenha sido, está longe de ter tido um papel fundamental na construção de Portugal.
Felizmente a ideia caiu por terra e não foram poucos os que se opuseram a tal coisa. Contudo existirão muitas mais situações parecidas com a de Zeca. Isto porque já há muito que o Estado português cedeu à triste imagem de que o nosso Panteão Nacional é o nosso Passeio da Fama. Só assim se explica que por lá estejam os restos mortais de uma fadista e de um jogador de futebol.
E só assim se vai poder aceitar que num futuro que se deseja muito distante os restos mortais de Luís Figo, Cristiano Ronaldo, Mariza, Carlos do Carmo e muitos outros nomes icónicos da nossa cultura e desporto passem a fazer parte do Panteão Nacional.
Isto tudo, claro está, caso a nossa classe política perceba de uma vez por todas que os portugueses e portuguesas não são aqueles “seres tapadinhos que comem palha de manhã, à tarde e à noite”. Convêm que quem nos governa (e pretenda governar) interiorize – de uma vez por todas! – que o Panteão Nacional não é o Passeio da Fama.
Artigo publicado no site Repórter Sombra (28/08/2018)