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Antes de mais, sobre a temática dominante (a prisão de Lula da Silva), gostaria, tão-somente, de ressalvar que do meu ponto de vista é crucial não se analisar o dito sob o ponto de vista político. Usar-se uma lupa partidária e/ou até mesmo ideológica para a analise da prisão de Lula é meio caminho andado para que se transforme o problema num problema ainda maior. O caso “Lava Jato” e os seus actores e actrizes devem ser julgados e, eventualmente, condenados tendo por base todos os cabais preceitos orientadores da Justiça para que esta evite, ao máximo, ser levada pela onda do politicamente correcto.
O problema em si é que este caso nunca foi, pelas mais variadas razões, um caso normal. O famoso processo “Lava Jato” teve na sua génese formadora uma base estritamente política. Todos - da esquerda à direita - concordarão comigo quando digo que o “Lava Jato” foi o passaporte que o Presidente Temer e seus apoiantes usaram para alcançar o poder no Brasil. A clara evidência de tal é a forma pouco clara (e até mesmo artificial) como Dilma Rousseff foi afastada do cargo de Presidente da República Federal do Brasil.
Ora face aos recentes desenvolvimentos que tem sido tornado públicos, o timing da decisão judicial que determinou a prisão de Lula da Silva, a fundamentação utilizada por um dos Juízes que votou contra o último recurso de Lula, o facto de Lula liderar toda e qualquer sondagem respeitante às eleições presidenciais de Outubro e as recentes declarações e posicionamento público das altas chefias da Polícia Militar e do Exército brasileiro obrigam-me a ter de olhar para a prisão de Lula da mesma forma que olho para o afastamento de Dilma.
Colocando as coisas de uma forma mais simplista; tenho para mim que a prisão de Lula da Silva (mais do que o resultado de um processo judicial que visa combater o flagelo crescente da corrupção) é antes o princípio do culminar de um processo puramente político. Processo este que poderá ter um fim trágico não só para o Brasil, mas para toda uma América Latina que ainda tem muitas feridas abertas pela “dança das cadeiras” que as Ditaduras e Democracias levaram a cabo no século XX.
E, partindo (mais uma vez) do princípio de que há por aí muita gente distraída a ler o que escrevo, esta minha opinião é puramente desprovida de qualquer orientação política. Algo que, a meu ver, deveria ser feito por todo e qualquer comentador político seja ele português ou brasileiro em vez de se alinhar no politicamente correcto.
Para terminar gostaria somente de fazer chegar uma mensagem ao famoso comentador político António Lobo Xavier (personalidade pública que respeito e pela qual tenho uma enorme admiração).
No último programa “Quadratura do Círculo”, Lobo Xavier deixou bem patente a sua discordância sobre o facto de os seus colegas de debate não conseguirem falar da prisão de Lula sem invocar o nome de Temer. E, em jeito de remate final, Lobo Xavier passou a ideia de que o Presidente Temer há-de ser, também ele, julgado e condenado pela Justiça brasileira.
Confesso que até que concordo, mesmo que em parte, com esta forma de ver a questão por parte de Lobo Xavier. O problema reside, tão-somente, no quando é que Temer será levado à barra dos Tribunais e se alguma vez isto será uma realidade! Não se pode seguir a tese do politicamente correcto com Lula da Silva e deixar-se Temer de fora só porque este é o actual Presidente (não eleito) do Brasil.
Artigo publicado no site Repórter Sombra (0'9/04/2018)
Sirvo-me do título da última obra do Realizador Norte-americano David O. Russell para descrever na perfeição o sucedido no Brasil. Não se tenha a mais pequena dúvida que o Impeachment não passou de uma trafulhice levada a cabo por quem está tão envolvido no famoso caso “lava jacto” como a Dilma. O que aconteceu, no fundo e no cabo, foi o tentar prolongar um estado de coisas que contribui – muito - para a derrocada da Democracia na América do Sul.
Já sei que por esta altura haverá quem discorde do que escrevi no primeiro parágrafo. Mas tenhamos calma e analisemos as coisas como elas são. Bem sei que uma grande fatia da Comunicação Social portuguesa tem feito o impossível para que todos olhemos para Dilma e Lula como os principais culpados de todos os males do Brasil dos nossos dias, mas as coisas não são bem assim.
Primeiro que tudo há que dizer que Dilma Rousseff é suspeita no processo “lava jato”. Assim como também o é Michel Temer, actual Presidente do Brasil após o afastamento de Dilma.
Repito: Dilma é suspeita. A Comunicação Social portuguesa esquece-se um pouco de nos dizer que suspeito não é o mesmo que culpado. São coisas diferentes com significados e efeitos completamente distintos. Dito de outra forma, Dilma Rousseff, Lula da Silva e Michel Temer não foram, ainda, formalmente condenados por qualquer Tribunal brasileiro dos crimes que quem os acusa diz terem cometido.
Levanta-se então uma importante e pertinente questão. Se Dilma Rousseff não foi ainda condenada pelos crimes que dizem ter cometido, porquê razão esta foi afastada do cargo de Presidente da República do Brasil? Ou melhor; se Dilma é suspeita de ter cometido vários crimes, porquê razão foi substituída no seu cargo por Michel Temer que também é suspeito de ter cometido vários crimes?
Após esta questão ainda haverá quem discorde do que escrevi no primeiro parágrafo?
Mas não é só a destituição de Dilma que pode ser apelidada de golpada americana. Todo o processo de Impeachment de Dilma é revelador de uma manifesta vontade de tomar o poder de assalto para desta forma desviar o olhar das autoridades de quem está metido no “lava jato” até ao pescoço. Começando desde logo pela razão do pedido de tal procedimento. Pedido este que se esquece (maldosamente pois claro) de referir que aquilo que “empurrou” o Brasil para o abismo económico em que está hoje foi a guerra do crude que a Arábia Saudita iniciou com os até há não muito tempo denominados países das economias emergentes.
O real problema do Brasil dos nossos dias não se chama Lula da Silva. E muito menos Dilma Rousseff. Chama-se antes oportunismo, pois quando o petróleo dava para satisfazer as comadres e não se fabricavam verdades.
Artigo publicado no site Repórter Sombra (05/09/2016)