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Confesso que - para mim - dizer que em Portugal o meio-termo não existe não é novidade alguma, contudo a recente tragédia de Pedrógão Grande e arredores voltou a trazer a lume esta faceta tão portuguesa com certeza.
Ideologias e “partidarices” á parte, o actual momento é de reflexão e não de reacção desenfreada. Obviamente que é necessário responsabilizar quem tem responsabilidades directas e indirectas por tudo o que falhou na tragédia de Pedrógão Grande. E tal não poderá passar pelo “lavar de mãos” do Ministério da Administração Interna que passou o seu dever de investigação e responsabilização para o Parlamento onde após algum “circo” - mais cedo do que se pensa - a culpa acabará por morrer solteira. Assim como o problema não se poderá evitar no futuro com mais legislação. Nem creio que a tão propalada diabolização do eucalipto seja a milagrosa solução que muitos dizem existir. E muito menos me parece que a solução passe pelo discurso do estilo “coitadinhos dos produtores de eucalipto” que não tem culpa nenhuma no cartório”.
É necessário encontrar um meio-termo. E encontrar este meio-termo não passa por proibir o lançamento de balões de São João um dia antes das festas São Joaninas (por exemplo). Passa antes por a nossa classe política ganhar coragem de uma vez por todas, libertar-se de vez das suas “amarras” e dar uma verdadeira utilidade à Assembleia da República e demais instituições.
Ora isto tudo para se dizer que em vez de andarmos no “jogo do empurra” das responsabilidades sobre o que sucedeu em Pedrógão Grande, deveríamos antes encetar esforços no sentido de dotar as autoridades de poderes que lhes permitam apurar as responsabilidades de quem não agiu como deve ser. Mas para isto há que enfrentar uma coisa chamada PPP (toda a gente sabe o que isto é), os lobbys da propriedade privada/indústria da celulose e procurar criar órgãos que fiscalizem e tenham poderes reais para trazer ordem a uma floresta portuguesa que está cada vez mais entregue à sua própria sorte.
A recuperação da carreira de Guarda Florestal e a regionalização seriam, a meu ver, dois “meios-termos” que ajudariam a reduzir ao mínimo a possibilidade de uma tragédia como a Pedrógão Grande voltar a acontecer. Mas isto é só é possível num país onde os governantes tenham algum conhecimento da realidade. Em Portugal tal não é possível pois por cá há autarquias que acham que um coveiro pode, e deve, elaborar relatórios sobre a floresta e no Ministério da Administração Interna vigora a peregrina ideia de que duas carrinhas de comunicações móveis são mais do que suficiente para servir o país caso as torres de comunicação falhem como falharam no monstruoso incêndio de Pedrógão Grande.
Artigo publicado no site Repórter Sombra (26/06/2017)
Se bem me recordo em Julho deste ano a RTP noticiou com pompa e circunstância que ao Exercito Português foi-lhe dada a importante missão de patrulha das matas nacionais para se prevenirem os incêndios.
Nesta peça podemos ver os Militares em acção. Todos janotas, de arma ao ombro, lanterna numa mão e rádio na outra lá iam eles em grupos de três a patrulhar um matagal qualquer chamando a atenção aos casais que levavam a cabo uma qualquer fantasia no meio da floresta ou a um ou outro campista mais destemido que preferia a mata ao parque de campismo.
Tudo muito bonito. Este ano é que era. Incêndios nem vê-los até porque as nossas competentes Forças Armadas, tão requisitadas e felicitadas Internacionalmente, iam tomar conta da floresta e ajudar a Polícia na captura dos criminosos incendiários.
Qual foi o resultado de tudo isso? Portugal teve a pior época de incêndios desde o 25 de Abril e se não me engano até se bateu o recorde de bombeiros mortos no combate ás chamas. E isto para não falar na morte de uma civil na Madeira devido a um acidente de viação que envolveu uma viatura Militar.
Perante isto retiro a seguinte conclusão: ou os incendiários Lusos são de uma destreza tal que ninguém os para seja de que forma for ou então estamos todos tramados em caso de ataque militar da parte de alguma Nação inimiga.