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Com a mais do que provável saída do Reino Unido da União Europeia e tendo em consideração as especificidades muito peculiares do Reino Unido e da sua história (que de pacifico tem muito pouco, diga-se desde já), apetece-me levantar aqui uma questão que ainda ninguém quis ou ousou levantar de tão entretidos que andam com o regresso de uma suposta fonteira física na República da Irlanda sempre que o assunto “Brexit” vem ao de cima.
Não estou com tal, de forma alguma, a querer desvalorizar ou secundarizar a questão da fronteira entre as duas Irlandas. Tal é um dos pertinentes assuntos do “Brexit” que merece uma reflexão bastante grande, ponderada e racional q.b. para que a resposta ao problema seja, no mínimo do possível, a mais adequada possível à problemática.
Contudo, face ao que a história recente nos demonstrou, estou deveras curioso para saber qual a reacção daqueles que batem no peito sempre que se fala de Europa quando a Escócia reclamar a sua independência no pós “Brexit”.
Esses mesmos que batem com orgulho no peito e “falam grosso” com o Executivo de Londres são os mesmos que dantes tudo fizeram e de toda a retórica se serviram para fazer da independência escocesa uma espécie de pesadelo. Chegaram mesmo, inclusive, a condenar a Escócia ao isolamento económico e civilizacional porque esses sabem que na sua casa também existem povos que merecem decidir por si, e por si só, o seu destino e futuro enquanto povos soberanos.
Não se tenha a mais pequena dúvida de que a Escócia irá mesmo avançar para a sua independência. Isto porque tudo indicia que o chamado “Hard Brexit” vai ser uma realidade. De quem vai ser a culpa de tal não importa nem interessa porque ambas as partes só têm a perder com tal. Só mesmo o irracional irá fazer com que os escoceses permaneçam no Reino Unido.
É uma certeza a candidatura da Escócia à União Europeia quando estiver terminada a saída à força do Reino Unido da Europa. E aí é que vamos todos ver aquilo de que é feita essa mesma União Europeia. Isso porque não se pode, nem se deve, querer ser uma potência internacional e não se saber tirar proveito de uma situação que irá, com toda a certeza, colocar Londres em muito maus lençóis.
A Europa de Von der Leyen terá na questão escocesa – mais – uma oportunidade de mostrar ao Mundo que não é a tal manta de retalhos onde ninguém se entende.
A ver vamos como tudo se vai desenrolar, mas, não querendo ser acusado de pessimismo irritante, não creio que a figura da manta de retalhos onde toda a gente ralha e só se entende depois de muita exposição mediática vá desparecer. Pelo contrário! Quando chegar a hora H, quem se vai ficar a rir será Londres e a sua bacoca e desajustada visão imperialista do Mundo. Já a União Europeia vai continuar a ser o motivo de risota a nível diplomático (e não só).
E já que falamos de Europa…
António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa e líderes partidários tem lançado os foguetes e feito a festa em torno dos fundos europeus que, pelo que se ouve e lê, vêm salvar a nossa pátria.
Há que dizer o que não se diz ou pouco se fala e escreve.
O processo dos tais fundos milagrosos ainda está no início. A concessão dos mesmos tem ainda de passar pelo crivo dos Parlamentos de cada Estado-membro e algo me diz que quando os ditos chegarem ao Parlamento da Holanda, Áustria, Alemanha, Finlândia, Suécia, Polónia e Hungria a coisa vai travar a fundo…
Artigo publicado no site Repórter Sombra (06/10/2020)
Chegou o dia em que a Europa e o Mundo assistem a uma transformação que, para o bem e para o mal, poderá vir a acabar mal para todos os envolvidos na dita. Com o «Brexit» a ter aquilo que me apraz apelidar de “drama shakespeariano”, eis que temos a Europa dos burocratas a dar o dito por não dito ao passar a ideia de que irá permitir o alargamento do prazo da saída do Reino Unido do espaço europeu. Tal forma de estar por parte desta Europa em ano de eleições europeias (bem sei que valem o que valem) pode vir a ter um elevado custo. Especialmente se tivermos em linha de conta que irão concorrer ao Parlamento Europeu forças anti europeias que se vão apoiar no mais do que provável dito por não dito para fazerem valer os seus argumentos.
Sempre o disse e mantenho, o «Brexit» é uma faca de dois gumes. É uma faca que vai, com toda a certeza, provocar um golpe profundo no Reino Unido e na Europa dos burocratas que, quer goste ou não, vai ter de novo o “monstro” das regiões separatistas a rondar e a ameaçar a sua “união” dado que não estou em crer que tanto a Escócia como a Irlanda do Norte partilhem do famoso espirito inglês do “Keep Calm and Carry On”.
Tudo isto explica – e muito! – a razão pela qual os burocratas de Bruxelas começam a fomentar a possível (e mais do que provável) ideia do alargamento do prazo do «Brexit». Especialmente se tiver em linha de conta que a oposição a May é favorável à feitura de um novo Referendo cujo referendo volte a ditar uma mais do que provável colocação do Reino Unido na União Europeia. Isto se deixarmos de lado, ora pois, as melindrosas e nada transparentes questões financeiras sobre as quais ninguém se atreve a falar, analisar e opinar.
Vamos a ver o que isto dará até porque por esta altura em que escrevo este texto os deputados britânicos preparam (espero eu) a saída forçada de uma personagem que nunca deveria ter assumido o papel de Primeira-Ministra. Especialmente sabendo que a sua governação iria ter de lidar com um problema cobardemente criado pelo seu antecessor e alimentado por uma fé imaginária e fantasiosa num “Império” que já não existe.
Do outro lado do atlântico…
Do outro lado do atlântico - no dito Mundo novo – Donald Trump continua a sua demanda na defesa de uma birra eleitoral que custa a qualquer um de nós (europeus) entender. Já aos norte-americanos acredito que não seja assim tão complicado até porque Trump é o espelho perfeito do norte-americano da classe média/alta.
Como vai a birra terminar não sei. O que sei é que cada Povo tem os governantes que merece. Daí não ter assim muita pena dos Funcionários Públicos que devido à birra de Trump não recebem o que lhes é justamente devido pelo seu trabalho.
Artigo publicado no site Repórter Sombra (15/01/2019)
imagem retirada de zerozero
Efectivamente pouco mais me apraz dizer sobre esta vitória portuguesa em terras escocesas senão que foi a vitória da naturalidade. Isto muito por culpa, ora pois, da enorme discrepância em termos qualitativos entre a equipa nacional da Escócia e a nossa equipa. Esta Escócia nem parece uma equipa do século XXi, tal é o futebol primitivo que pratica… Trata-se de um futebol que assenta, quase que em exclusivo, no bola para a frente e toca a correr muito até à baliza adversária. Mau demais… Só mesmo a actual Alemanha para empatar a zero com esta equipa numa partida da Liga das Nações da UEFA.
E já agora, só mesmo a Rádio Antena 1 para num jogo da nossa selecção desatar a analisar o que espera o SL Benfica na próxima jornada da Liga dos Campeões dado que este vai defrontar o Ajax em Amesterdão. O que interessa tal para o caso? Nada. É a velha retórica dos não sei quantos milhões. Adiante.
Regresso ao jogo para dizer que é engraçado que quem se fartou de dizer na Praça Pública que era impossível promover-se a renovação da nossa Selecção esteja agora tão calado. Claro que podemos apontar aqui e acolá um outro erro à gestão de Fernando Santos (eu acho que este por vezes aposta em desmaia em que já deu provas de que não tem “estofo” para estar entre os melhores), mas a verdade seja dita que Fernando Santos tem mostrado por a+b que é possível renovar-se a Selecção mantendo o nível de exigência bem elevado. Hoje em Glasgow tivemos mais uma prova de tal embora Renato Sanches tenha voltado a mostrar – mais uma vez - que não está ali a fazer nada (tal como o médio Bruno Fernandes).
MVP (Most Valuable Player): Hélder Costa. O “desconhecido” extremo português mostrou que é possível ser-se maus uma opção válida para a Nossa equipa quando se tem um bom treinador no clube. Gostei muito de ver o Hélder em campo e do seu sentido de posicionamento, sentido este que lhe valeu um golo.
Chave do Jogo: O golo inaugural marcado por Hélder Costa. Até esta altura a equipa escocesa acreditava que podia “fazer a Vida negra” aos lusos não obstante o seu futebol primitivo e altamente previsível. Depois do golo sofrido não tiveram capacidade alguma para incomodar as redes portuguesas (a não ser no erro defensivo que lhes deu o golo da consolação).
Arbitragem: Nada a relatar sobre a equipa de arbitragem. Jogo tranquilo e sem casos.
Positivo: Beto. “Velhos são os trapos” e o guardião Beto mostrou que tal provérbio é bem real. Excelente sempre que a equipa escocesa criou algum perigo na área portuguesa.
Negativo: Golo sofrido. A equipa britânica não joga nada, é um facto, mas não desperdiça uma oportunidade patética criada pelp adversário para marcar o seu golo.
Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma (Lavoisier)
Recorro à célebre frase do cientista francês para aqui dizer que na Política e no Direito nada se perde, tudo se transforma. Isto porque tanto uma coisa como a outra, tal como a natureza, estão longe (muito longe) de serem algo de estáticos dado que tanto a Política como o Direito interagem com a sociedade e adaptam-se, por vezes de uma forma radical, às mutações que a sociedade vai sofrendo. A prova de tal é o facto de muitos países já terem experimentado uma série interminável de modelos de governação. Modelos que em muitos casos provocaram o nascimento de novos Estados e até mesmo de novos Direitos em zonas do planeta onde dantes imperava uma espécie de união que se presumia saudável, eterna e comumente aceite por todos.
Ora tudo isto para aqui dizer que a Comunicação Social portuguesa tem contribuído, de uma forma manifestamente errada, para que uma crassa maioria da população portuguesa mantenha uma profunda ignorância face ao que está a suceder na Catalunha.
O Estado de Direito e a Constituição são duas “coisas” que não são imunes ao desenrolar dos tempos. Dito de outra forma; tanto o Estado de Direito como a Constituição de cada país adaptam-se às novas realidades que o “caldeirão” social “cozinha” ao longo dos tempos. A não ser assim, ainda hoje em pleno século XXI os cidadãos norte-americanos de origem africana não teriam acesso a determinados espaços públicos e o apartheid nunca teria tido um fim na África do Sul.
A razão pela qual a nossa Comunicação Social ignora os factos até aqui apresentados só a esta assiste, mas os efeitos colaterais desta sua posição acabam por ser reveladores da fraquíssima capacidade crítica de uma grande franja da população portuguesa.
Mas a “falha” não se fica por aí.
Quando o Governo de Mariano Rajoy vem para a Praça Pública com o argumento de que os catalães estão a violar o Estado de Direito e a Constituição acaba por fazer exactamente o mesmo - propositadamente ou não - que Nicólas Maduro (Presidente venezuelano) que se refugia no Estado de Direito e na Constituição do seu país para justificar a brutal opressão a que a oposição venezuelana vem sendo sucessivamente submetida.
Quer dizer, a nossa Comunicação Social critica e faz com que critiquemos (e bem) a loucura que se vive na Venezuela mas esta faz de tudo para que apoiemos a trapalhada que o Governo autoritário de Madrid criou?
Não percebo a razão pela qual parece ser tão difícil a tanto português perceber o que está em jogo.
Não entendo como são poucos os portugueses que se apercebem da forma como a opinião pública sobre a temática da Catalunha tem sido manifestamente manipulada a favor de uma facção que tudo indicia que poderia, e deveria, ter procurado colocar a razão do seu lado em vez de a impor pela força da insensatez e da ignorância.
Uma última nota para tentar refutar (mais) uma tremenda mentira que a nossa Comunicação Social tem repetido vezes sem conta como se uma mentira contada muitas vezes se tornasse verdade.
Ao contrário do que tem sido veiculado, a Catalunha tem aliados no panorama internacional. Ainda recentemente a Bélgica, Estado-membro da União Europeia, ofereceu asilo político a Carles Puigdemont (Presidente da Generalitat).
E não, a Bélgica não é uma “República das Bananas”. É antes um Estado que achou que deveria tomar uma certa, e determinada, posição face aos recentes tiques franquistas do Estado espanhol.
Aproveitando ainda esta breve nota, lanço aqui dois pequenos desafios a quem esta a favor da argumentação de Rajoy e seus apoiantes.
Vamos recordar a posição da União Europeia face à independência da Escócia antes e depois do Brexit?
Vamos também recordar o facto de o Kosovo não ser - ainda -reconhecido internacionalmente como um Estado por muitos países (entre eles a Espanha!) e tal não o impedir de existir como país soberano?
A título de complemento, não deixa de ser “engraçada” a posição que a União Europeia tomou no caso da independência do Kosovo dado que na altura esta mandou 2000 pessoas das forças de manutenção da paz das Nações Unidas para ajudar o Kosovo no seu processo de independência.
Artigo publicado no site Repórter Sombra (30/10/2017)
“Catalunha livre. Não à opressão de Espanha”. É isto que está escrito em catalão no título e que serve de mote a este texto de opinião. Isto porque, por mais voltas por parte de quem simpatize com os unionistas espanhóis e Mariano Rajoy, o que está verdadeiramente em causa no processo Catalunha é tão simplesmente a opressão que o poder central espanhol (e não só) exerceu, exerce e - pelos vistos - exercerá sobre um povo que quer apenas uma coisa: decidir o seu futuro.
Mariano Rajoy e os apoiantes da Espanha unida recorrem, vezes sem conta, à tese do populismo para tentarem justificar o que Madrid tem feito e prometeu fazer à Catalunha caso a Generalitat da Catalunha liderada por Carles Puigdemont avance para a declaração unilateral de independência. Ora por um lado Rajoy e quem o apoia tem a sua razão, mas há que colocar as coisas no seu devido lugar. Assim como há que ter um sério cuidado na utilização de certas terminologias, terminologias que facilmente enganam quem não sabe o que está efectivamente em cima da mesa e a razão pela qual as coisas são como são.
Eu até que aceitaria de bom grado a tese do populismo caso da parte de Madrid tivesse sido feita outra coisa senão reprimir violentamente quem não pensa da sua maneira e forma. É preciso ter-se em linha de conta que em certas zonas da Catalunha (em Barcelona especialmente) tivemos a Guardia Civil (polícia espanhola, pois para quem não sabe a Catalunha tem uma polícia própria) a provocar os manifestantes com atitudes que mais fizeram lembrar as de uma qualquer claque ilegal. Para mais a actuação da Guardia Civil e a forma como o Governo espanhol tem gerido a crise catalã deveriam ter merecido uma clara chamada de atenção da parte do Rei de Espanha que (embora obrigado a defender a Constituição do seu país) deveria apelar à calma e, sobretudo, à clarividência e sentido de dever por parte de quem tem a obrigação de procurar manter a paz e a ordem pública. E de nada serve o apelo de eleições antecipadas na Catalunha pois esta tem sido a solução de Madrid sempre que a Região segue a via do independentismo. Dito de outra forma; eleições antecipadas na Catalunha são o mesmo que adiar um problema que tem fácil solução.
Somando tudo o quem tem acontecido na nossa vizinha Espanha desde o dia 1 de Outubro do corrente ano cível até à data sou forçado a dizer que quem tem tido um comportamento típico de populistas é a Espanha e o seu Governo totalitário de Mariano Rajoy que insiste na tese da repressão violenta em detrimento da realização de um referendo. E acreditem que a realização de um referendo sobre a independência da Catalunha é algo de possível. Basta que para tal Espanha tenha a mesma boa vontade que demonstrou aquando da revisão constitucional que permitiu a Madrid abolir o sistema fiscal próprio da Catalunha acompanhado (ora pois!) de uma brusca diminuição da autonomia da dita Região Autónoma.
Duas notas finais.
Uma para demonstrar, mais uma vez, que o populismo mora exclusivamente em Madrid ou não tivesse a manifestação a favor da Espanha unida (que teve lugar em Barcelona, e um pouco por toda a Catalunha, no passado domingo) decorrido de uma forma ordeira e pacífica. Fossem as autoridades catalãs os “populistas” e teria reinado todo este respeito e paz? A resposta é óbvia e só não a vê quem não quiser.
A outra nota prende-se com os apologistas da desgraça caso a Catalunha veja a sua entrada na União Europeia (EU) barrada à partida caso venha a ser um país independente. Ora tal forma de ver as coisas é reveladora, no mínimo, de uma ignorância atroz pois a Catalunha independente não será o único país “cercado” por Estados-membros da UE (veja-se o caso da Suíça, por exemplo). A quem pensa de tal forma aconselho vivamente a que faça uma pesquisa na internet sobre uma organização chamada “EFTA”. Para mais a UE tanto está do lado das independências como está contra. A prova de tal é a postura da União aquando do referendo sobre a independência da Escócia. Na altura a UE esteve fortemente contra a independência dos escoceses, mas agora que o “Brexit” é uma realidade esta mesma UE vê com bom grado uma Escócia independente do Reino Unido.
Artigo publicado no site Repórter Sombra (09/10/2017)