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É nas derrotas que todos vemos a capacidade que um líder tem, ou não, de liderar. Recentemente ficou demonstrado que Rui Moreira, actual Presidente da Câmara Municipal do Porto, não tem esta capacidade de liderança que se exige a um líder de uma cidade que pretende combater o centralismo que asfixia Portugal.
Vêm isto a respeito da derrota portuense no concurso para receber a sede da Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla em inglês).
A derrota era, por demais, evidente tendo em consideração o simples facto de Portugal estar inserido numa península onde as dificuldades de circulação são altamente centralizadas e pouco – e até mesmo nada – acessíveis a cidadãos e empresas. Obviamente que a extensa e rica ferrovia (e não só) que “rasga” toda a Europa central ia fazer com que a grande vencedora do referido concurso fosse uma cidade do centro da Europa. Só não via tal quem não queria ou quis antes alimentar um sonho.
Face à confirmada derrota da candidatura portuense, o que fez o Governo de António Costa?
Anuncia de uma forma precipitada e pouco ortodoxa mas com pompa e circunstância a transferência da sede do Infarmed para a cidade Invicta. Assim como se de um prémio de consolação se trate. Uma espécie de medalha de cortiça. Como se a necessária descentralização fosse, no fundo e no cabo, isto mesmo, um prémio de consolação que é entregue a quem dá o que pode mas este pode não é suficiente.
Já na semana passada aqui falei na extrema necessidade de se descentralizar serviços e de se voltar, no médio prazo, a pensar na regionalização pois só assim podemos combater o flagelo da desertificação e desinvestimento de muitas das zonas do litoral e interior de Portugal. Em momento algum afirmei que o processo de descentralização deveria ser um prémio de consolação ou um instrumento que serve, tão-somente, para se calar alguém.
Ora não sendo a necessária descentralização de serviços e de competências um prémio de consolação, caberia a Rui Moreira ter tido uma reacção muito mais prudente ao anúncio da deslocação da sede do Infarmed de Lisboa para o Porto.
E maior prudência se exigia ao autarca se tivermos em linha de conta de que a anunciada e, repito, atabalhoada decisão governamental está (pasme-se!) carregada de ilegalidades. Ilegalidades estas que deveriam ter sido devidamente acauteladas porque o Governo, por muito que se julgue o contrário, não está (nem nunca estará) acima da Lei.
Ora isto tudo porque o Porto, como a segunda maior cidade do nosso país, deve procurar dar o exemplo. Já diz o famoso brocado que à mulher de César não lhe basta ser séria, tem de o parecer. Se o Porto quer liderar o mais do que necessário processo de descentralização, então este deve assumir-se como líder no verdadeiro sentido do termo e procurar de todas as formas exigir que o processo de descentralização chegue a todos e não somente ao Porto. Dito de outra forma, em vez de Rui Moreira ter vindo para o facebook escrever «A ADORAR O RESSABIAMENTO DE ALGUNS. ASSIM VALE A PENA», este deveria antes ter exigido publicamente da parte do Governo de António Costa a seriedade e respeito que a cidade do Porto merece sem esquecer o resto do país que sofre, e muito, com a problemática do centralismo.
No final de contas quem sofre com isto é a cidade do Porto (e restante país) que terá de continuar a ter de se contentar com as medalhas de cortiça que Lisboa faz questão de entregar numa espécie de troça que parece não ter fim.
Artigo publicado no site Repórter Sombra (27/11/2017)
Portugal é cada vez mais um país egocêntrico. E não, não estou a falar das pessoas. Falo antes das decisões políticas que ao invés de serem tomadas no sentido de que o nosso pequeno (mas belo país) seja de todos, fazem com que este seja cada vez mais só de alguns. Cada vez mais se cultiva a famigerada ideia de que Portugal é Lisboa e o resto é paisagem independentemente dos custos – em todos os aspectos - que isto tem para o país no geral.
A insistência na construção de mais um aeroporto em Lisboa em detrimento de uma melhor gestão de rotas através da exploração das três portas aéreas que Portugal continental tem (Porto, Lisboa e Faro) é disto um bom exemplo. O mesmo tipo de lógica se aplica às várias barras portuárias onde poderão atracar os famosos cruzeiros que tanto tem contribuído para o crescimento do PIB nacional.
O recente encerramento da delegação da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) do Porto é mais uma das vastas manifestação do ridículo egocentrismo que contribui, e de que maneira, para que situações, por exemplo, como a dos incêndios que assolaram o nosso país este ano sejam uma realidade cada vez mais presente.
Se retiramos serviços das cidades, retiramos também as pessoas que nele trabalham e que vivem nestas mesmas cidades. As pessoas acabam por ter de se deslocar para onde os ditos serviços são deslocados (Lisboa), acabando por abandonar as cidades onde dantes trabalhavam. Por seu turno em Lisboa a sobrelotação de pessoas, serviços e capitais é hoje em dia uma triste realidade.
Recordo-me de há uns anos largos ter ficado indignado quando soube que os serviços de Estado que se encontravam no Porto tinham de solicitar a Lisboa a compra de material de escritório. Até um simples punhado de canetas ou lápis tinha de passar sempre, mas sempre, por Lisboa. E, como se não bastasse, este material de escritório era comprado em Lisboa e depois transportado por uma empresa de Lisboa para o Porto. Não me recordo de na altura este tipo de esquema ter beneficiado os cidadãos e, inclusive, o Estado português pelo que me pergunto qual a razão para estarmos de novo a voltar a este tipo de egocentrismo que mais não faz senão destruir, mesmo que lentamente, o nosso Portugal.
Ventania democrática?
Em África parece que os ventos são – novamente - de mudança.
Em Angola temos um novo Presidente que parece querer apagar da história angolana todo e qualquer resquício do clã Eduardo dos Santos. Se tal atitude poderá vir a ser positiva só o tempo o dirá, mas a verdade para quem está longe é que Angola já há muito que precisa de uma tremenda lufada democrática de ar fresco.
Do Zimbabué são muitas as notícias de que o poder eterno de Robert Mugabe parece estar próximo do seu final. Tal como em Angola, o Zimbabué já há muito de que precisa de uma tremenda lufada democrática de ar fresco mas só o tempo nos dirá se tal vai ser mesmo assim e se a transição para o pós-Mugabe vai ser pacífica.
Artigo publicado no site Repórter Sombra (20/11/2017)