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Caminhando orgulhosamente para o abismo

por Pedro Silva, em 09.07.18

imagem crónica RS.jpg 

Em Portugal perde-se tempo precioso a discutir o vazio em vez de olhar para o essencial. Dito de outra forma; estar a debater se porventura a plataforma de apoio ao governo de António Costa é a mais pura perda de tempo. Bem sei que existem muitos jornalistas e analistas políticos da nossa Praça que querem espalhar o pânico porque sabem que assim “vendem mais” e fazem-se ouvir, mas fora do nosso pequeno país estão a acontecer coisas terríveis. E a uma velocidade incrivelmente medonha. Tão incrível que custa a crer que tal não seja objecto da mais profunda análise por parte de quem se debruça sobre política em Portugal.

 

O Orçamento de Estado de 2019 vai ser aprovado. Ponto final! Se vai haver um certo e necessário teatro durante a sua discussão? Vai. Mas que interesse tem isto para nós enquanto cidadãos? Zero! Já o que se está a passar no espaço europeu é gravíssimo e deveria merecer muito mais da nossa atenção. Nunca a União Europeia esteve tão próximo do fim. Mas quem lê as notícias e as opiniões dos comentadores políticos fica coma clara e errada ideia de que «no passa nada». Passa-se algo e o que vou vendo é toda uma Europa a caminhar orgulhosamente para o abismo.

 

As recentes revindicações e imposições italianas no que á política europeia de acolhimento de refugiados, a perseguição criminosa que a Hungria promove a todos os refugiados e a quem os ajuda mesmo que tal ajuda seja, tão-somente, no preenchimento de um qualquer impresso, a crise democrática que se vive na Polónia, o avanço das forças de extrema-direita na Europa Central/Norte que aos poucos está a ocupar o vazio político que os últimos anos de governação europeia franco-germânica criou, as recentes convulsões políticas na Alemanha e, inclusive, o já famoso «Brexit» são sintomas de que algo não está mesmo nada bem na Europa. Raras são as vezes em que concordo com Marcelo Rebelo de Sousa, mas recentemente este afirmou que quem olha hoje para a Europa vê muito da Europa antes do eclodir da 2.ª Guerra Mundial.

 

Confesso que tal estado de coisas me assusta. Especialmente o ar normal que muitos de nós fazemos quando olhamos para este cenário e acabamos a debater se a Alemanha está, ou não, a mandar mais ou menos na nossa Europa. Como se o cerne da questão não fosse precisamente o de se ter retirado a Democracia do espaço europeu para no seu lugar se implementar – mesmo que à força dos ditos “mercados e afins” – uma espécie de dictat germânico.

 

È precisamente este mesmo dictat que fez com que tudo esteja como está- A Sra. Merkel deve mandar no seu país. Tal como cada governante de cada Estado-membro da União deve mandar no seu país. Querer seguir outra via que não a do diálogo e busca de soluções adequadas aos tempos que correm é, repito, caminhar orgulhosamente para o abismo.

 

E em jeito de remate final gostaria de fazer notar que o «Brexit» não será péssimo somente para os britânicos. Tendo em consideração a forma como a Europa está e o sectarismo que a Alemanha da Sra. Merkel protegeu durante anos (tal foi do seu agrado e conveniência), vai acabar por ser mais um prego no caixão do projecto europeu.

 

Por isto continuemos a debater o folclore do próximo Orçamento numa de vingança para como o Governo de Costa. Não despertemos para o que realmente interessa antes que seja tarde demais. Continuemos assim que estamos bem.

 

Artigo publicado no site Repórter Sombra (09/07/2018)

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publicado às 21:30


1 comentário

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De Sarin a 13.07.2018 às 13:13

mas... a política externa é uma coisa e a política dos outros é algo que não tem nada a ver connosco. nada mesmo! nós nem participámos na segunda mundial nem nada...


Chegámos ao ponto em que quem se rebela contra a globalização só olha para o seu umbigo e quem é a favor da globalização a percebe como uniformização. Quase não há espaço para debate.


Pedro, num paralelismo que, a nós que somos portista e benfiquista, soará insuspeito: daquilo que se passou recentemente na Academia do Sporting - e que aconteceu no Sporting mas poderia ter acontecido noutro clube, não nos julguemos imunes - ressaltou uma evidência para a democracia. Surgiram posições diversas sobre como lidar com jogadores, infractores, justas causas, etc... vi comentadores a manifestarem-se contra as rescisões por "traição dos jogadores ao amor à camisola" e alegando que "o clube não é o presidente" ou aplaudindo a "coragem de chamar os meninos mimados à pedra", ignorando ostensivamente que um jogador é um trabalhador, que as relações laborais são pautadas por regras específicas e que o trabalhador trabalha com a administração, não com a marca. Isto afligiu-me sobremaneira, esta facilidade com que alguns adaptaram o argumento e ignoraram a cidadania em nome de um clube que apenas artificialmente lhes confere um sentido de pertença. (Friso que tanto faz ser o Sporting como o Benfica, o Porto ou outro qualquer)


Se se age assim a um nível tão básico mas tão artificial, como esperar que se aja de outra forma com aqueles que realmente ameaçam o que se considera o espaço e o tempo próprios? E ameaçam não pelos costumes mas pela sustentabilidade, e apenas por isso. O resto, já aconteceu muitas vezes antes e a história é cíclica, nós humanos é que gostamos de achar que não.

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