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A semana que terminou, para além dos incêndios que não “largam” o nosso país, ficou marcada pelo jogo de forças entre o Estados Unidos da América de Donald Trump, o regime ditatorial norte coreano de Kim Jong-un, a “democrática” República Popular da China liderada por Xi Jinping e (como não podia deixar de ser) a Venezuela do tresloucado Nicolás Maduro. A primeira ilação que se retira de tal é que os Estados Unidos da América não aprenderam absolutamente nada com o passado dado que a Administração Trump insiste na batida tese made in USA de que o bullying compensa. Ora vejamos então o que se passa.
O que têm o regime de Kim Jong-un de Nicolás Maduro em comum? Ambos acreditam piamente na tese de que o Munda está contra eles e os quer eliminar a todo o custo. Tal explica a necessidade que a Coreia do Norte sente em fazer notar o seu poderio militar e tal explica, em parte, a força brutal de Maduro para com todos os que se lhes opõem no panorama internacional se bem que no caso da Venezuela a preocupação dos USA seja para com os poços de petróleo. Ora o recente discurso belicista de Donald Trump sobre ambos os regimes reforça, ainda mais, a necessidade destes em se “fechar” cada vez mais em si mesmo, reforçando, desta forma, a tese de que todos estão contra eles. Tal é um facto por muito que este discurso agrade à maioria dos norte-americanos e aliados.
A juntar a tudo isto temos a postura arrogante de Trump para com a China. Postura que não ajuda em nada à diminuição da tensão na península coreana.
Recorde-se na dita península impera um armistício que só não teve um ponto final porque a China vê na Coreia do Norte uma espécie de “almofada” que trava as intenções expansionistas de Japão e Estados Unidos da América na região. Isto para além, ora pois, do radicalismo sul coreano (estes não ficam mesmo nada a dever aos malucos do norte no que a fanatismo diz respeito).
Dito de outra forma; a China de Xi Jinping tem todo o interesse em que o regime de Kim Jong-un exista e perdure no tempo, Mas esta mesma China não tem interesse algum num possível retorno da guerra da Coreia. Isto porque tal terá um impacto económico-financeiro enorme muito negativo no Mundo devido aos elevados prejuízos humanos que acarreta. É muito por causa deste jogo duplo que a China tem apoiado e aplicado as mais variadas sanções internacionais à Coreia do Norte.
Ora face ao exposto até aqui, facilmente se percebe que não é com reprimendas, humilhações, discursos belicistas e venda de armas a regiões chinesas dissidentes como Taiwan que a administração Trump vai resolver os problemas Coreia do Norte e Venezuela. Embora o norte-americano na sua maioria discorde, não é com idiotice que se combate a idiotice.
Bem sei que tal com Donald Trump é impossível, mas tivesse havido um maior diálogo noutros tempos e algumas sérias cedências da parte de quem se acha o “Polícia do Mundo” e muito provavelmente o regime de Kim Jong-un e o de Nicolás Maduro não seriam um problema grave difícil de se solucionar.
Artigo publicado no site Repórter Sombra (14/08/2017)
A situação na Venezuela é cada vez mais crítica. A violência nas ruas agudiza-se e o regime ditatorial liderado por Maduro está cada vez mais entrincheirado e não dá sinais de ceder nos próximos tempos.
A manietada crise económico-financeira orquestrada pelo Ocidente e Arábia Saudita por causa do petróleo tem sido uma espécie de suplemento vitamínico do regime de Maduro. Já a população venezuelana é quem mais tem sofrido com isto, facilitando assim o recrutamento de indivíduos violentos por certas “organizações” que fazem das manifestações anti ditadura uma autêntica batalha campal retirando, desta forma, toda e qualquer razão que a fraca oposição a Maduro tem em todo este tenebroso assunto.
Hoje em dia a Venezuela é um país completamente abandonado por todos os seus vizinhos. Esta já foi, inclusive, expulsa do Mercosur ficando inibida de toda e qualquer relação comercial privilegiada com os países da sua região. Provavelmente a única relação comercial internacional que o país de Maduro terá é com Cuba e mais uma dúzia de Estados que estão interessados no crude venezuelano.
É neste cenário que surge a possibilidade de a União Europeia (EU) vir a aplicar sanções á Venezuela caso o regime de Maduro opte por convocar uma Assembleia Constituinte. E, face ao que tem vindo a público, Portugal não parece estar com intenção de votar favoravelmente tal posição por parte da UE. E, bem vistas as coisas, esta será uma posição inteligente dado que este caminho das sanções internacionais não é, nunca foi, nem nunca será a solução de problemas como o da Venezuela.
E não é preciso uma ginástica mental muito apurada para se perceber porquê razão concordo com a suposta posição portuguesa. Senão vejamos.
Cuba é uma ditadura que vem sendo sancionado há décadas pelos Estados Unidos da América, mas o regime cubano mantêm-se firme e pelos vistos irá manter-se imutável por muitos mais anos.
O Irão é já há muitos anos um Estado religioso totalitário que vem sendo sancionado internacionalmente há anos a fio. Tudo se mantêm na mesma não obstante a recente abertura deste país ao Ocidente.
Recentemente a Rússia de Putin foi, e é, fortemente sancionada pela UE e Estados Unidos por causa da anexação da Crimeia e por uma suposta participação na guerra civil que ainda hoje divide a Ucrânia em duas partes distintas. Qual o resultado de tal? Zero! A Crimeia continua a fazer parte da Federação Russa e a guerra civil ucraniana parece ter vindo para ficar.
A Coreia do Norte, o país mais isolado e sancionado do Mundo, ainda recentemente mostrou que não é com sanções nem com manobras militares nas suas fronteiras que o mundo conseguirá colocar um ponto final no rígido e sombrio regime norte-coreano.
Mais exemplos existirão que demonstram a ineficácia das tais “sanções”. Daí que me pergunte, face ao que vamos vendo a acontecer numa Venezuela - onde ninguém tem razão - os políticos europeus (e não só) não terão capacidade para ir mais longe do que o discurso formatado de sempre? A Venezuela necessita de soluções e não de quem agudize ainda mais os seus agudos problemas.
Artigo publicado no site Repórter Sombra (24/07/2017)
Ao contrário dos fanáticos colunistas da direit(ol)a portuguesa eu prefiro escrever e opinar sobre coisas sérias. Claro que cada um tem direito à sua opinião e a torna-la pública, mas eu não preciso da desgraça de Pedrógão Grande e arredores e do assalto a Tancos para me fazer ouvir. Ainda se quem segue esta via trouxesse algo de novo que mudasse a governação de gabinete (já aqui falei sobre istro na semana passada), eu era como o outro e dava a mão à palmatória, mas como não o fazem vamos então falar de coisas sérias.
E falar de coisas sérias é falar sobre o que se está a passar na Venezuela. E não, não vou seguir o discurso gasto da direit(ol)a. Isto porque é por demais óbvio que a Venezuela esta momento refém de um regime corrupto completamente tresloucado. O que me perturba na Venezuela é olhar para o outro lado e verificar que a dita “solução do povo” é exactamente igual à que está no poder. A “oposição” a Maduro também se organiza e movimenta de forma violenta. Esta apela à violência nas ruas. Esta pactua com a violência. Ora perante tal cenário que futuro para a Venezuela? Provavelmente aquele que os interesses das grandes petrolíferas acharem melhor. Não se tenha a mais pequena dúvida de que a base de todo o problema venezuelano assenta na velha questão do ouro negro. E que faz a Comunidade Internacional? Faz de conta porque deve ser deveras divertido ver os venezuelanos a matarem-se uns aos outros em directo nos telejornais.
Falando sobre uma outra coisa muito séria é falar sobre o que se está a passar no Médio Oriente. Pode até parecer um paradoxo, mas hoje em dia olhamos para o Irão e dizermos, com profunda convicção, que este país é o único país moderado de uma região onde o conflito armado está prestes a “explodir”. E tudo por causa da política non sense da administração Trump. A recente venda de armamento norte-americano à Arábia Saudita veio desequilibrar os pratos da balança de uma região onde o equilíbrio de forças é muito ténue. Todos conhecemos a intensa rivalidade mortal entre iranianos e sauditas. Mas nada disto interessa a Trump e seus apoiantes pois a coisa como está é deveras “engraçada”. E é “engraçada” porque caso a tal base turca sediada no Quatar seja atacada pelos sauditas & amigos a NATO vai ter de entrar em cena para defender a Turquia, ou não fosse esta um estado membro da aliança onde vigora o princípio do ataque a um é um ataque a todos. Well done Donald!
E já que falamos de coisa sérias, já todos repararam como o aumento da escalada de violência na península coreana aumentou desde que Donald Trump resolveu entrar numa guerra comercial com a China? E também todos repararam no vídeo que a Coreia do Sul colocou a circular? É um vídeo onde esta simula um bombardeamento da sua rival do norte. Mais uma vez well done Donald pois colocaste duas facções de doidos dispostos a matarem-se (outra vez) uns aos outros!
Artigo publicado no site Repórter Sombra (10/07/2017)
Há uns tempos atrás Mariana Mortágua, Deputada do Bloco de Esquerda e Jornalista, publicou no Jornal de Notícias uma crónica de opinião em que falava da situação da Venezuela. Resumidamente a opinião da Bloquista assentava essencialmente no facto de hoje em dia a Venezuela ser uma Ditadura governada por lunáticos que se aproveitaram de um conjunto de factores para se eternizarem no poder. A Mariana diz tal reiterando que, embora sendo de Esquerda, não tem problema algum em dizer que repudia o que está a suceder naquele país da América Latina.
Mas a Mariana não se fica por aí. Na sua crónica esta lança uma pergunta. Pergunta que também eu faço. E o resto? E as outras populações estão reféns de poderes e interesses que jogam com mestria o jogo democrático para se manterem no poder?
A Mariana apontou – e muito bem – o seu dedo crítico a Angola, país que é dominado há já muitas décadas pela elite militar que enriqueceu à custa do povo. Contudo eu vou mais além. Prefiro estender a saudável e correctíssima visão da Mariana a outros pontos no Mundo (muito em espacial na Europa).
No Brasil tivemos recentemente um golpe levado a cabo por uma minoria de Direita ultra conservadora que está sob a alçada da Justiça em diversos processos de corrupção.
Na Turquia Erdoğan e a sua máquina governativa eternizam-se nos corredores do poder em Istambul. São conhecidas as posições destes relativamente aos Direitos Humanos. Liberdades, Direitos e Garantias são uma regalia de alguns na Turquia do século XXI e as Mulheres são meros “objectos”. A juntar a isto tudo temos a forma “nada violenta” como Erdoğan lidou, lida e lidará com a oposição Curda e o problemático Médio Oriente.
Em França Hollande está numa longa e penosa guerra aberta com todos os seus trabalhadores por causa de uma reforma laboral que visa retirar direitos a quem tem de trabalhar todos os dias para poder ter uma vida digna. Inclusive já se chegou ao ponto de se ver o Presidente Francês a ameaçar proibir o direito à manifestação.
Na Polónia movimentos de extrema-direita mostram a sua força em Varsóvia com a aceitação e profundo agrado da actual Primeira-ministra ultra conservadora e nacionalista. Emigrante na Polónia é hoje em dia um “verme” da Sociedade que deve ser expulso à paulada como sucedeu com um estudante Português há não muito tempo.
Na Hungria temos os “camisas negras” a crescer a olhos vistos. Inclusive já podemos ver tal aberração ao vivo e a cores nos estádios do EURO 2016. Dito de outra forma; o fascismo está em crescendo na Hungria muito por culpa da chegada ao poder de uma personagem que acha que tudo o que não seja Húngaro é uma aberração que deve ser tratada a pontapé.
No Reino Unido - onde o Brexit é um “papão” cada vez mais real - matou-se uma Deputada do Partido Trabalhista numa qualquer rua de Londres numa altura em que ambos os lados (a favor da manutenção na Europa e do Brexit) digladiam argumentos cada vez mais violentos e extremistas.
Nos Estados Unidos da América um louco sem cadastro comprou uma metralhadora numa loja de armas e resolveu descarregar os cartuchos da dita num bar Gay. Mais um caso entre muitos outros que não tem fim à vista porque o lobby das armas de fogo fala muito mais alto do que a segurança dos cidadãos.
Em suma, a lista de exemplos é vasta. Mas como facilmente se constata são muitas as populações estão reféns de poderes e interesses que jogam com mestria o jogo democrático para se manterem no poder.
Na Venezuela um maníaco (des)governa o país. Em Angola os mesmos de sempre ditam Leis e vontades através da força da corrupção. E o resto?
Artigo publicado no Repórter Sombra
Hong Kong tem sido palco de algo maravilhoso. Elucidativo daquilo que deve ser uma Sociedade moderna. Refiro-me, obviamente, ao fenómeno que já ficou conhecido mundialmente como a Revolução dos Guarda-chuvas.
E quando me refiro a esta Revolução não o faço olhando para vertente política da mesma porque esta está a ser adulterada pelo Ocidente que do alto do seu pedestal mantêm a estapafúrdia ideia de que os Chineses, sejam eles de que regiões Chinesas forem, são todos iguais e tratam-se todos por igual. A China é em si mesmo uma Sociedade multi facetada que congrega os mais variados tipos de vivências, tradições, culturas e ritos, daí que seja um tremendo disparate comparar a Revolução dos Guarda-chuvas à nossa Revolução dos Cravos de 1974.
Expondo o assunto de outra forma mais plausível; a base da Revolução dos Guarda-chuvas assenta numa questão sócio cultural que tem sido convenientemente desviada pelos media Ocidentais para uma espécie de luta pela Democracia. O que realmente se passa naquela zona da Ásia é tão somente que os seus habitantes pretendem escolher um líder que seja oriundo da sua Sociedade e não um que venha do círculo político fechado de Pequim. Nenhum deles está contra um Regime que, mesmo fechado em si mesmo, lhes dá um nível de vida igual, e até mesmo superior, ao dos Ocidentais.
Mas o que eu tenho achado maravilhoso é o facto de os manifestantes mostrarem que estão nesta luta de boa-fé. Não há pilhagens de lojas, não existem confrontos entre indivíduos de cara tapada e as forças da autoridade, não há lixo nas ruas e os desacatos que tem existido entre os manifestantes são resolvidos pelos próprios. E melhor que tudo, não surgem vídeos com Adolescentes bonitas de face angelical a fazer propaganda pelo seu ideal. Tudo comportamentos que não vimos de forma alguma na Ucrânia, Venezuela e Brasil onde todos os dias surgiam imagens de delinquentes de cara tapada em guerra aberta com a Policia e com quem não alinhasse na sua tese de destruição e roubo.
Mais uma vez o Oriente mostra ao Ocidente que, apesar dos seus defeitos, consegue ser mais civilizado do que a tese civilizacional que o Ocidente apregoa e impõe.