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Acreditem, ou não, mas esta minha publicação não tem - mesmo - nada a ver com o "tarantantan" diário dos nossos meios de Comunicação Social no que diz respeito à greve dos motoristas de matérias perigosas.
Fonte: Diário do Minho
Existem coisas muito mais importantes - e bem mais gravosas! - que não controlamos e que começam, a pouco e pouco, a ser o nosso "novo normal".
Coisas essas que passam completamente ao lado da maioria da nossa Comunicação Social que tão entretida está com a greve dos motoristas de matérias perigosas/cenas ridículas do português comum.
Há um assunto que parece ter passado – muito – ao lado da Comunicação Social e demais comentadores. O Reino Unido e a União Europeia já chegaram a acordo sobre os variadíssimos pontos do Brexit. Agora resta ao Parlamento Europeu a análise do documento e votar a favor ou contra o dito. Este seria um tema que, na minha opinião, deveria ter merecido um largo e extenso debate por esta Europa fora. E não é necessário ser-se um licenciado em Ciência Política para se perceber porquê razão afirmo tal. Contudo o assunto que dominou os jornais e televisões de toda uma Europa foi o caso Skrypal. Um não assunto que, na minha modesta opinião, serviu para que não se falasse mais do Brexit nem daquilo que poderá ter sido (ou não) acordado entre as partes envolvidas na sua negociação.
E porque razão considero o caso Skrypal um não assunto? Simples. Para mim aquela tese de quem acusa, prova é uma regra de ouro para a qual não admito qualquer tipo de execpção. A verdade é que a Inglaterra da Sra. May acusa a Rússia de Putin de ter atentado contra a vida do ex-espião russo e a sua filha, mas até ao presente o Executivo de Theresa May ainda não apresentou uma única prova que fundamente esta sua acusação. Falamos de um caso que está ainda em investigação e que, inclusive, já sofreu uma esperada reviravolta porque o Kremlin afirmou ter sido de todo impossível que o seu cidadão tenha sido envenenado em plena praça pública sem que tal tenha afectado muitas outras pessoas. Tal acabou por ser confirmado pelas autoridades britânicas que investigam o caso. Alias, após este “pequeno” volte-face da investigação, o assunto Skrypal deixou de ter o peso mediático que tinha… Coincidências? Não acredito muitas nelas, mas que as há, há.
Para além de tudo o que expus até aqui existe ainda o triste teatro internacional onde coabitam actores e actrizes de duvidosa qualidade que pactuam com a cortina de fumo lançada pelo Executivo liderado pela Sra. May. Convém alertar os mais distraídos que a Europa Central e do Norte têm uma clara e manifesta dependência do gás proveniente da Rússia, pelo que não se deve esperar que países como a Alemanha, Bélgica, Holanda, França, Ucrânia e outros se entreguem de corpo e alma à tal de “Guerra Fria” da Sra. May. Lá para o Norte e Centro do Velho Continente o Inverno costuma ser um tudo ou nada complicado de se “digerir”. Estamos na primavera, pelo que se compreende esta “posição de força” que culminou na expulsão dos diplomatas russos dos seus territórios. Estivéssemos nós no outono e a coisa teria sido muito diferente. E já está a ser diferente! A Sra. Merkel assinou recentemente um documento onde dá autorização para a construção do gasoduto entre a Alemanha e a Rússia através do Báltico.
Ah, pois, resta ainda a posição de “força” dos Estados Unidos da América. Dirão alguns leitores e leitoras críticos desta minha opinião. Sucede porém que a posição de Donald Trump perante tudo isto acaba por ser a normal tendo em conta as polémicas que se tentam “fabricar” para justificar o amor inqualificável que uma crassa maioria dos norte-americanos sente pelo seu actual Presidente.
Por tudo isto, e mais alguma coisa, apenas me apetece sugerir à Sra. May que deixe de recorrer às cortinas de fumo e demonstre à Europa e Mundo que isto do «Keep Calm and Carry On» se aplica ao Brexit.
Uma nota final sobre o que se vai passando na Catalunha.
Não é nada que eu não estivesse à espera e que já não tivesse aqui feito referência. Sempre disse (e mantenho) que o problema sempre foi o de Madrid não reconhecer um acto eleitoral que não seja do seu agrado, mas cá por Portugal perdemos muito tempo e energias a discutir o supérfluo em vez de nos centrarmos naquilo que realmente interessa. Como tal não me vou alongar muito mais sobre a temática. Apenas desejo que os catalães não cheguem ao ponto terminal em que estando encostados à parede não tenham outra opção senão seguir violentamente em frente.
Artigo publicado no site Repórter Sombra (02/04/2018)
Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma (Lavoisier)
Recorro à célebre frase do cientista francês para aqui dizer que na Política e no Direito nada se perde, tudo se transforma. Isto porque tanto uma coisa como a outra, tal como a natureza, estão longe (muito longe) de serem algo de estáticos dado que tanto a Política como o Direito interagem com a sociedade e adaptam-se, por vezes de uma forma radical, às mutações que a sociedade vai sofrendo. A prova de tal é o facto de muitos países já terem experimentado uma série interminável de modelos de governação. Modelos que em muitos casos provocaram o nascimento de novos Estados e até mesmo de novos Direitos em zonas do planeta onde dantes imperava uma espécie de união que se presumia saudável, eterna e comumente aceite por todos.
Ora tudo isto para aqui dizer que a Comunicação Social portuguesa tem contribuído, de uma forma manifestamente errada, para que uma crassa maioria da população portuguesa mantenha uma profunda ignorância face ao que está a suceder na Catalunha.
O Estado de Direito e a Constituição são duas “coisas” que não são imunes ao desenrolar dos tempos. Dito de outra forma; tanto o Estado de Direito como a Constituição de cada país adaptam-se às novas realidades que o “caldeirão” social “cozinha” ao longo dos tempos. A não ser assim, ainda hoje em pleno século XXI os cidadãos norte-americanos de origem africana não teriam acesso a determinados espaços públicos e o apartheid nunca teria tido um fim na África do Sul.
A razão pela qual a nossa Comunicação Social ignora os factos até aqui apresentados só a esta assiste, mas os efeitos colaterais desta sua posição acabam por ser reveladores da fraquíssima capacidade crítica de uma grande franja da população portuguesa.
Mas a “falha” não se fica por aí.
Quando o Governo de Mariano Rajoy vem para a Praça Pública com o argumento de que os catalães estão a violar o Estado de Direito e a Constituição acaba por fazer exactamente o mesmo - propositadamente ou não - que Nicólas Maduro (Presidente venezuelano) que se refugia no Estado de Direito e na Constituição do seu país para justificar a brutal opressão a que a oposição venezuelana vem sendo sucessivamente submetida.
Quer dizer, a nossa Comunicação Social critica e faz com que critiquemos (e bem) a loucura que se vive na Venezuela mas esta faz de tudo para que apoiemos a trapalhada que o Governo autoritário de Madrid criou?
Não percebo a razão pela qual parece ser tão difícil a tanto português perceber o que está em jogo.
Não entendo como são poucos os portugueses que se apercebem da forma como a opinião pública sobre a temática da Catalunha tem sido manifestamente manipulada a favor de uma facção que tudo indicia que poderia, e deveria, ter procurado colocar a razão do seu lado em vez de a impor pela força da insensatez e da ignorância.
Uma última nota para tentar refutar (mais) uma tremenda mentira que a nossa Comunicação Social tem repetido vezes sem conta como se uma mentira contada muitas vezes se tornasse verdade.
Ao contrário do que tem sido veiculado, a Catalunha tem aliados no panorama internacional. Ainda recentemente a Bélgica, Estado-membro da União Europeia, ofereceu asilo político a Carles Puigdemont (Presidente da Generalitat).
E não, a Bélgica não é uma “República das Bananas”. É antes um Estado que achou que deveria tomar uma certa, e determinada, posição face aos recentes tiques franquistas do Estado espanhol.
Aproveitando ainda esta breve nota, lanço aqui dois pequenos desafios a quem esta a favor da argumentação de Rajoy e seus apoiantes.
Vamos recordar a posição da União Europeia face à independência da Escócia antes e depois do Brexit?
Vamos também recordar o facto de o Kosovo não ser - ainda -reconhecido internacionalmente como um Estado por muitos países (entre eles a Espanha!) e tal não o impedir de existir como país soberano?
A título de complemento, não deixa de ser “engraçada” a posição que a União Europeia tomou no caso da independência do Kosovo dado que na altura esta mandou 2000 pessoas das forças de manutenção da paz das Nações Unidas para ajudar o Kosovo no seu processo de independência.
Artigo publicado no site Repórter Sombra (30/10/2017)