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Hong Kong tem sido palco de algo maravilhoso. Elucidativo daquilo que deve ser uma Sociedade moderna. Refiro-me, obviamente, ao fenómeno que já ficou conhecido mundialmente como a Revolução dos Guarda-chuvas.
E quando me refiro a esta Revolução não o faço olhando para vertente política da mesma porque esta está a ser adulterada pelo Ocidente que do alto do seu pedestal mantêm a estapafúrdia ideia de que os Chineses, sejam eles de que regiões Chinesas forem, são todos iguais e tratam-se todos por igual. A China é em si mesmo uma Sociedade multi facetada que congrega os mais variados tipos de vivências, tradições, culturas e ritos, daí que seja um tremendo disparate comparar a Revolução dos Guarda-chuvas à nossa Revolução dos Cravos de 1974.
Expondo o assunto de outra forma mais plausível; a base da Revolução dos Guarda-chuvas assenta numa questão sócio cultural que tem sido convenientemente desviada pelos media Ocidentais para uma espécie de luta pela Democracia. O que realmente se passa naquela zona da Ásia é tão somente que os seus habitantes pretendem escolher um líder que seja oriundo da sua Sociedade e não um que venha do círculo político fechado de Pequim. Nenhum deles está contra um Regime que, mesmo fechado em si mesmo, lhes dá um nível de vida igual, e até mesmo superior, ao dos Ocidentais.
Mas o que eu tenho achado maravilhoso é o facto de os manifestantes mostrarem que estão nesta luta de boa-fé. Não há pilhagens de lojas, não existem confrontos entre indivíduos de cara tapada e as forças da autoridade, não há lixo nas ruas e os desacatos que tem existido entre os manifestantes são resolvidos pelos próprios. E melhor que tudo, não surgem vídeos com Adolescentes bonitas de face angelical a fazer propaganda pelo seu ideal. Tudo comportamentos que não vimos de forma alguma na Ucrânia, Venezuela e Brasil onde todos os dias surgiam imagens de delinquentes de cara tapada em guerra aberta com a Policia e com quem não alinhasse na sua tese de destruição e roubo.
Mais uma vez o Oriente mostra ao Ocidente que, apesar dos seus defeitos, consegue ser mais civilizado do que a tese civilizacional que o Ocidente apregoa e impõe.
Há muito que tenho este pensamento que resolvi colocar como título deste desabafo. O recado não é inteiramente dirigido aos Cidadãos. Não o é porque estes têm muito com que se preocupar e a verdade seja dita que tanto em Ditadura como em Democracia o que lhe interessa é viver o seu dia-a-dia e ir fazendo frente aos desafios que a Vida lhe coloca.
O recado é dirigido à nossa Classe Política. Mais concretamente à actual que não teve participação directa no 25 de Abril dado que na altura era demasiado jovem para tal.
Desde o inicio desta semana que tenho ouvido e lido fervorosas iniciativas da parte da Assembleia da República e da Presidência sobre a Revolução dos Cravos. Recuperação de Murais, Poemas da Revolução, Discursos sobre a Liberdade, Debates sobre o 25 de Abril, Histórias dos tempos da Ditadura, etc., etc. São várias as iniciativas dos Órgãos Democráticos do nosso Portugal. Mas não tenhamos a mais pequena dúvida de que são todos gestos meramente hipócritas e obrigatórios.
E porque afirmo tal cosia? Muito simples. Basta que recordemos o comportamento patético e alucinado da Sra. Presidente da Assembleia da República perante a vontade que os Capitães de Abril manifestaram em discursar na Casa do Povo. Exigia-se muito mais de uma Representante não eleita do maior símbolo Democrático Português e nem o estapafúrdio pedido de desculpas apaga ou faz esquecer o seu triste comportamento.
Depois temos os Srs. e Sras. Deputados(as) que são eleitos pelos variados Círculos Eleitorais mas que cedem à disciplina de voto do seu Partido mesmo quando esta mesma disciplina atenta contra os interesses da População que os elegeu.
Dizem que isto é Democracia representativa, mas quem consegue contactar e expor os seus problemas ao Deputado/Deputada que foi eleito(a) pelo seu Círculo Eleitoral? Ninguém. Aliás se houver quem saiba qual foi o Político do seu Círculo Eleitoral que foi eleito para a AR que me diga pois é algo que penso que o comum dos Cidadãos desconhece.
E há muito mais para dizer. Mas fico pela repetição do título: Abril não é só em Abril embora quem esteja no Cadeirão do Poder pense que dá um certo jeito recordar Abril no 25 de Abril e depois passar o resto do ano a lixar-se para as eleições e para quem o elegeu.
Vença quem vençer eu pelo menos fiz algo para que as coisas tomem outro rumo senão aquele que todos criticamos mas que muitos nada fazem para que ele mude. O voto faz sempre a diferença e é a nossa revolução!