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E quando Portugal deixar de estar na moda?

por Pedro Silva, em 26.09.16

Imagem Crónica RS.jpg 

Aqui há tempos dei com uma crónica de Mário Amorim Lopes intitulada Mais vale um turista na mão do que dois portugueses a voar (ler aqui). Li o dito texto de opinião e cheguei a uma conclusão: ou Mário Amorim Lopes é um fanático do neo liberalismo ou então este desconhece por completo a realidade da cidade do Porto. Isto porque a certa altura este escreve o seguinte:

 

Recordo-me de visitar o centro do Porto quando era criança. Íamos ver a iluminação de Natal, porque fora isso não havia nada para fazer no centro. Literalmente nada, com excepção da ida ocasional para celebrar os campeonatos do FC Porto ou para comprar ferragens e parafusos de quando em vez na rua do Almada. A Baixa era um espaço degradado, sujo, onde pernoitavam sem-abrigo e deambulavam outros indivíduos que tal. As suas gentes eram as mesmas de há 50 anos, porque ninguém novo queria ir viver para a Baixa. E não era por ser inacessível, muito pelo contrário. O preço por metro quadrado na baixa do Porto era muito barato em comparação com as restantes zonas da cidade, equiparado apenas à periferia longínqua. Não havia era procura, pois era na Foz, Boavista, Pinheiro Manso, Campo Alegre, Matosinhos, Gaia ou Leça da Palmeira onde toda a gente queria viver. Em todo o lado, salvo na Baixa.

 

Confesso que desconheço por completo a idade de Mário Amorim Lopes, mas sei bem qual a minha (38 anos para quem quiser saber) e recordo-me perfeitamente de ir à Baixa da cidade do Porto e ver por lá muito mais do que a iluminação de Natal e as celebrações das conquistas do Futebol Clube do Porto. E também me recordo perfeitamente de que a Rua do Almada ser muito mais do que uma Rua de ferragens e parafusos. Até meados dos anos 90 (inicio de 2000) a Baixa portuense era uma zona cheia de vida onde o comércio e a finança andavam de braço dado.

 

O problema da degradação da Baixa do Porto de que fala Mário Amorim Lopes foi criado pelos sucessivos Autarcas que passaram pela presidência da Câmara Municipal do Porto que nada fizeram para evitar o “esvaziamento” que a Baixa – e restante cidade – foi sofrendo ao longo de décadas. E para além de nada se ter feito quando ainda era ainda possível reverter o problema, procurou-se a saída mais fácil. Aquela que é defendida por Mário Amorim Lopes nesta sua crónica. Ou seja, fazer da cidade do Porto um aldeamento turístico onde quem quiser viver e sobreviver tem de se dedicar, forçosamente, ao turismo. Quem não o conseguir fazer só tem uma solução segundo o aqui referido cronista: ir embora.

 

O problema da solução proposta e defendida intransigentemente por Mário Amorim Lopes é só um. E quando a cidade do Porto deixar de estar na moda o que se vai fazer ao elevado investimento no turismo que se tem levado a cabo desde os tempos da presidência de Rui Rio? Quem irá recuperar a cidade? Os portugueses que foram forçados a sair da cidade do Porto por não se terem adaptado à suposta “solução”? Ou será que o tremendo boom de Hotelaria e serviços relacionados com o turismo tem o condão da sobrevivência eterna sem clientela que a sustente?

 

Ao contrário do que defende Mário Amorim Lopes, a dependência de uma suposta  “galinha dos ovos de ouro” é perigosa.

 

Portugal está na moda. É um país seguro, barato, tem boas praias, gentes simpáticas e um clima ameno. Mas as modas não duram para sempre e quando Portugal deixar de estar na moda as duas maiores cidades de Portugal vão estar a braços com as suas Baixas carregadas de Hotéis e Lojas fechados.

 

O meu caro Mário Amorim Lopes não deve saber (ou não quer saber senão de outra forma não distorcia os factos), mas as soluções a curto prazo nunca deram grandes resultados. Aliás, é muito por causa desta forma de estar que o que tanto o Porto como Lisboa ficaram com as suas Baixas num estado lastimável.

 

Haja meio-termo ma gestão das nossas cidades. Mas isto é o mesmo que pedir a um porco que voe.

 

Artigo publicado no site Repórter Sombra

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publicado às 17:33


16 comentários

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De erreguê a 29.09.2016 às 07:55

Excelente post porque fala num tema muito atual. O que se está a passar em Portugal é realmente uma questão de moda, ou seja o que agora é o melhor no futuro pode já não ser. As nossas cidades estão cheias de turistas estrangeiros e alguns nacionais e o problema é que não se está a criar um verdadeiro modelo de cidade, com atracções como por exemplo uma semana da moda como acontece com Paris ou Milão, uma feira como a IFA em Barcelona, uma Baselworld em Basileia, um Grande Prémio de F1 como acontece nas principais cidades do mundo. Ou seja o modelo vai esgotatar-se por si mesmo, os turistas que nos visitam vêm agora mas não vão voltar, porque estará outro destino em vouga, nessa altura a galinha dos ovos de ouro estará cansada e os ovos já não brilham, as cadeias de hotéis internacionais vão-se embora à procura de outra galinha e os hotéis que ficarem vão baixar os preços e outros fechar na esperança que daqui a uns bons anos Portugal esteja outra vez na moda. Mas atenção será que ainda vamos a tempo de mudar este cenário?.
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De O Artista do Norte a 29.09.2016 às 14:08


Caros "erreguê" e "Repórter sombra", Se já visitaram Londres, Paris ou Barcelona por exemplo, o que lá encontraram? Cidades abandonadas, ruas vazias, edifícios abandonados? Só temos de abraçar as modas e tirar o máximo partido delas. Os portugueses vão sempre ser portugueses.
Não é necessário personalizar no Sr. Mário Amorim Lopes todas os supostos problemas que vocês encontram no turismo. Vai correr tudo bem... Pior do que estava não vai ficar. Saudações caríssimos.
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De erreguê a 29.09.2016 às 14:51

Caro Artista do Norte, das cidades que referiu já visitei Londres que por acaso é sede (ou vai deixar de ser em breve) capital financeira da Europa e uma das mais importantes do mundo, tem a Semana da Moda, tem edificíos emblemáticos que por si só atraem muitos arquitetos, tem várias convenções, tem mais Teatros do que Portugal, tem mais escolas de arte, tem mais habitantes. Barcelona, tem o Grande Prémio de F1, tem mais feiras temáticas que Portugal, tem mais habitantes que Lisboa e Porto juntas, tem uma cultura muito diversificada, tem edificios emblemáticos,tem obras de um Sr chamado Gaudi, tem a sua Sagrada Familia, o que não faltam são argumentos para a visitar. Paris ainda não visitei mas dispensa apresentações, um atrativo é por exemplo a Semana da Moda duas vezes por ano.
Não estou contra o tirar partido de modas, estou mais contra o expropriar as pessoas do centro das cidades para as povoar com turistas, numa tarde destas na baixa de Lisboa, um senhor Espanhol veio perguntar-me onde ficava o Chiado, depois de lhe dizer, ele disse-me que era a primeira pessoa com quem falava que era Português, donde están los Portugueses ? no los veo. Não tenho nada contra o turismo, até acho que é importante para Portugal, mas o que não quero é ver uma Avenida da Liberdade com mais hoteis e lojas e sem habitantes, cidades com mais hipermercados dentro delas do que noutras cidades mundiais, cidades com mais lojas multinacionais de grandes dimensões e pouco comércio tradicional. Quanto a se vai ficar pior ou não, espero que não mas hoje o turismo é um setor com um crescimento desregulado, sobreaproveitado. Num artigo do Financial Times Christian Loubotin, fala do Alentejo, por ser um destino turistico onde se pode andar sem ver pessoas a tirar selfies e onde se pode ver as pessoas na sua vida habitual, ou seja ele quer passar despercebido e ser só mai um, em Lisboa e Porto isso é quase tarefa dificil, é mais fácil ver um Tuk Tuk do que um Lisboeta ou um Portista a morar nas suas principais ruas e a viver uma vida normal.
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De Pedro Silva a 29.09.2016 às 15:32

Subscrevo e agradeço os seus preciosos comentários erreguê.
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De erreguê a 29.09.2016 às 17:24

Obrigado Pedro, é um tema que me diz muito e que devemos falar, porque nós gostamos das nossas cidades e já vimos como são aproveitadas, usadas e descartadas, seja pela especulação imobiliária, pelos interesses comerciais e agora pelo aproveitamento turístico. Quem vive e quer viver nas cidades terá que ter de passar por tantos interesses? Afinal as cidades são das pessoas, elas são o seu prepósito as suas veias.

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