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Aqui há tempos dei com uma crónica de Mário Amorim Lopes intitulada Mais vale um turista na mão do que dois portugueses a voar (ler aqui). Li o dito texto de opinião e cheguei a uma conclusão: ou Mário Amorim Lopes é um fanático do neo liberalismo ou então este desconhece por completo a realidade da cidade do Porto. Isto porque a certa altura este escreve o seguinte:
“Recordo-me de visitar o centro do Porto quando era criança. Íamos ver a iluminação de Natal, porque fora isso não havia nada para fazer no centro. Literalmente nada, com excepção da ida ocasional para celebrar os campeonatos do FC Porto ou para comprar ferragens e parafusos de quando em vez na rua do Almada. A Baixa era um espaço degradado, sujo, onde pernoitavam sem-abrigo e deambulavam outros indivíduos que tal. As suas gentes eram as mesmas de há 50 anos, porque ninguém novo queria ir viver para a Baixa. E não era por ser inacessível, muito pelo contrário. O preço por metro quadrado na baixa do Porto era muito barato em comparação com as restantes zonas da cidade, equiparado apenas à periferia longínqua. Não havia era procura, pois era na Foz, Boavista, Pinheiro Manso, Campo Alegre, Matosinhos, Gaia ou Leça da Palmeira onde toda a gente queria viver. Em todo o lado, salvo na Baixa.”
Confesso que desconheço por completo a idade de Mário Amorim Lopes, mas sei bem qual a minha (38 anos para quem quiser saber) e recordo-me perfeitamente de ir à Baixa da cidade do Porto e ver por lá muito mais do que a iluminação de Natal e as celebrações das conquistas do Futebol Clube do Porto. E também me recordo perfeitamente de que a Rua do Almada ser muito mais do que uma Rua de ferragens e parafusos. Até meados dos anos 90 (inicio de 2000) a Baixa portuense era uma zona cheia de vida onde o comércio e a finança andavam de braço dado.
O problema da degradação da Baixa do Porto de que fala Mário Amorim Lopes foi criado pelos sucessivos Autarcas que passaram pela presidência da Câmara Municipal do Porto que nada fizeram para evitar o “esvaziamento” que a Baixa – e restante cidade – foi sofrendo ao longo de décadas. E para além de nada se ter feito quando ainda era ainda possível reverter o problema, procurou-se a saída mais fácil. Aquela que é defendida por Mário Amorim Lopes nesta sua crónica. Ou seja, fazer da cidade do Porto um aldeamento turístico onde quem quiser viver e sobreviver tem de se dedicar, forçosamente, ao turismo. Quem não o conseguir fazer só tem uma solução segundo o aqui referido cronista: ir embora.
O problema da solução proposta e defendida intransigentemente por Mário Amorim Lopes é só um. E quando a cidade do Porto deixar de estar na moda o que se vai fazer ao elevado investimento no turismo que se tem levado a cabo desde os tempos da presidência de Rui Rio? Quem irá recuperar a cidade? Os portugueses que foram forçados a sair da cidade do Porto por não se terem adaptado à suposta “solução”? Ou será que o tremendo boom de Hotelaria e serviços relacionados com o turismo tem o condão da sobrevivência eterna sem clientela que a sustente?
Ao contrário do que defende Mário Amorim Lopes, a dependência de uma suposta “galinha dos ovos de ouro” é perigosa.
Portugal está na moda. É um país seguro, barato, tem boas praias, gentes simpáticas e um clima ameno. Mas as modas não duram para sempre e quando Portugal deixar de estar na moda as duas maiores cidades de Portugal vão estar a braços com as suas Baixas carregadas de Hotéis e Lojas fechados.
O meu caro Mário Amorim Lopes não deve saber (ou não quer saber senão de outra forma não distorcia os factos), mas as soluções a curto prazo nunca deram grandes resultados. Aliás, é muito por causa desta forma de estar que o que tanto o Porto como Lisboa ficaram com as suas Baixas num estado lastimável.
Haja meio-termo ma gestão das nossas cidades. Mas isto é o mesmo que pedir a um porco que voe.
Artigo publicado no site Repórter Sombra