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imagem retirada de zerozero
O que dizer sobre esta eliminação de Portugal frente ao Chile? Que o trabalho de casa deveria ter sido feito.
Eu, ao contrário da equipa técnica e jogadores portugueses, fiz o meu trabalho de casa e sabia de antemão o que valia este Chile. Falamos de uma equipa que é sul-americana mas que em campo não se comporta como uma equipa sul-americana. Este Chile de Pizzi (obra de Sampaoli) é uma equipa cínica que sabe gerir os vários momentos do jogo com uma perícia fenomenal. Este Chile joga com três centrais que até são algo baixos, mas estes tem um sentido de posicionamento fabuloso que anula por completo a linha avançada da equipa adversária. Alias, é muito por causa desta fabuloso sentido posicional que a equipa chilena consegue gerir todos os momentos do jogo e fazer o que quer do jogo. A equipa técnica portuguesa – tal como eu - teve duas edições seguidas da Copa América para poder retirar estas notas sobre o seu adversário das meias-finais da Taça das Confederações. Não o fizeram, apostaram na sorte das grandes penalidades e a nossa equipa acabou por ser eliminada por uma equipa que é especialista nas grandes penalidades. Portugal caiu numa C(h)ilada porque quis.
Agora não adianta andar por aí com a conversa do eu teria tirado o André Silva e eu não o teria retirado, etc. Fernando Santos foi muito pouco racional nas substituições é um facto, mas o pecado capital da nossa selecção foi o de ter achado que lhe bastaria levar o jogo até às grandes penalidades para o vencer não querendo, em muitos momentos, resolver a partida nos noventa e poucos minutos. E nem vale a pena dizer mais nada pois tal seria andar a especular sobre o passado, e o futuro não se constrói olhando (exclusivamente) para o passado. Venha daí o honroso 3.º lugar da Taça das Confederações para que este grupo de trabalho ganhe ânimo pois o apuramento para o Mundial do próximo ano está ainda longe de estar garantido.
MVP (Most Valuable Player): André Silva. De todos os sus colegas de selecção, André Silva terá sido aquele que se destacou um bocadinho do mediano. Lutador (como sempre), pecou apenas na finalização mas contra uma equipa como este Chile é compreensível que um jogador em formação como o André Silva tenha tido mais “baixos” do que “altos” durante o jogo.
Chave do Jogo: Inexistente. Em momento alguma algumas das equipas foi capaz de criar um lance que colocasse um ponto final na partida a seu favor.
Arbitragem: Não se pode dizer que o árbitro e restantes auxiliares estiveram mal no jogo. A meu ver o Sr. Alireza Faghani e restante equipa procuraram sempre passar ao lado do jogo, mas bem que poderiam ter evitado alguma polémica se tivessem optado por recorrer ao tal de “vídeo-árbitro” em alguns lances.
Positivo: Inexistente.
Negativo: Fernando Santos. Em completo contraste com a partida anterior, o seleccionador nacional desta vez “mexeu” mal na equipa e terá sido muito por isto que Portugal acabou eliminado pelo chile nas meias-finais da Taça das Confederações.
Confesso que - para mim - dizer que em Portugal o meio-termo não existe não é novidade alguma, contudo a recente tragédia de Pedrógão Grande e arredores voltou a trazer a lume esta faceta tão portuguesa com certeza.
Ideologias e “partidarices” á parte, o actual momento é de reflexão e não de reacção desenfreada. Obviamente que é necessário responsabilizar quem tem responsabilidades directas e indirectas por tudo o que falhou na tragédia de Pedrógão Grande. E tal não poderá passar pelo “lavar de mãos” do Ministério da Administração Interna que passou o seu dever de investigação e responsabilização para o Parlamento onde após algum “circo” - mais cedo do que se pensa - a culpa acabará por morrer solteira. Assim como o problema não se poderá evitar no futuro com mais legislação. Nem creio que a tão propalada diabolização do eucalipto seja a milagrosa solução que muitos dizem existir. E muito menos me parece que a solução passe pelo discurso do estilo “coitadinhos dos produtores de eucalipto” que não tem culpa nenhuma no cartório”.
É necessário encontrar um meio-termo. E encontrar este meio-termo não passa por proibir o lançamento de balões de São João um dia antes das festas São Joaninas (por exemplo). Passa antes por a nossa classe política ganhar coragem de uma vez por todas, libertar-se de vez das suas “amarras” e dar uma verdadeira utilidade à Assembleia da República e demais instituições.
Ora isto tudo para se dizer que em vez de andarmos no “jogo do empurra” das responsabilidades sobre o que sucedeu em Pedrógão Grande, deveríamos antes encetar esforços no sentido de dotar as autoridades de poderes que lhes permitam apurar as responsabilidades de quem não agiu como deve ser. Mas para isto há que enfrentar uma coisa chamada PPP (toda a gente sabe o que isto é), os lobbys da propriedade privada/indústria da celulose e procurar criar órgãos que fiscalizem e tenham poderes reais para trazer ordem a uma floresta portuguesa que está cada vez mais entregue à sua própria sorte.
A recuperação da carreira de Guarda Florestal e a regionalização seriam, a meu ver, dois “meios-termos” que ajudariam a reduzir ao mínimo a possibilidade de uma tragédia como a Pedrógão Grande voltar a acontecer. Mas isto é só é possível num país onde os governantes tenham algum conhecimento da realidade. Em Portugal tal não é possível pois por cá há autarquias que acham que um coveiro pode, e deve, elaborar relatórios sobre a floresta e no Ministério da Administração Interna vigora a peregrina ideia de que duas carrinhas de comunicações móveis são mais do que suficiente para servir o país caso as torres de comunicação falhem como falharam no monstruoso incêndio de Pedrógão Grande.
Artigo publicado no site Repórter Sombra (26/06/2017)