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A extrema necessidade de se arranjar um culpado para algo que nos afecta directa ou indirectamente parece ser algo de sintomático da natureza humana. Tudo leva a crer que fatidicamente só ficamos satisfeitos quando vemos alguém pagar pelo sacrifício que temos de fazer e muitas vezes não olhamos a quê nem a quem
É desta forma que tenho visto e analisado um vasto rol de reacções ao possível regresso de José Sócrates à política nacional. Sócrates é o vilão da Direita, o papão da Comunicação Social e é para muitos a única razão da actual situação em que o nosso País está neste momento.
Para ser sincero não sigo este guião e muito menos me deixo levar pelos instintos porque acima de tudo tenho memória e procuro sempre ter alguma vontade analítica das questões.
Isto para dizer que a crise que nos assola todos os dias não foi uma obra com marca registada em nome de José Sócrates. A crise até tem um nome – Crise das Dívidas Soberanas – mas este não é pronunciado senão muito baixinho.
O sistema capitalista do “leve hoje e pague daqui por um ano com juros” colapsou por completo tal como nos finais dos anos 80 colapsou por completo o sistema Soviético com as consequências socais e económicas que todos conhecemos.
Perante tal fenómeno não há um só político que possa ser devidamente punido por isto pois este herdou um sistema que todos aqueles que o antecederam nada fizeram para evitar o seu fim. Por exemplo; muita gente culpa Gorbachev pelo fim da URSS mas a história já se encarregou de demonstrar que a queda do Comunismo se deveu à intransigência de um grupo de “velhos comunistas” que não viram vantagens na modernização do sistema que criaram e que os enriqueceu.
Em Portugal, e na União Europeia, passou-se e passa-se o mesmo. Todos quiseram dar um passo mais largo que aquele que podiam efectivamente dar e não se preocuparam com os maus resultados que daí podiam advir. O nosso País foi obrigado ao quase extermínio da sua agricultura, indústria e pesca em nome de uma Política Europeia Comum tendo depois ficado completamente dependente do Mercado de Dívida Soberana para se financiar, Mercado este que como é sabido entrou em crise pelas mais variadas razões.
È por isto que antes de queremos fazer de José Sócrates (e outro qualquer) o Pai desta criança (entenda-se crise) que tanto nos tem atormentado no nosso dia-a-dia convêm que analisemos bem o que se passou no passado para não corrermos o risco de fazer o mesmo triste filme que faziam os agricultores Norte-americanos do Velho Oeste.